CAPÍTULO TRÊS
- ONDE OS SONHOS SE ESCONDEM
Jerry acordou de susto, sem saber onde estava, deitado
sobre arbustos e galhos e sob a sombra de árvores que nunca havia visto.
Parecia uma trilha no meio do mato. "Como havia chegado ali?",
perguntou-se. Mas não havia ninguém para responder.
Levantou devagar. Tinha dores em todo o corpo. A roupa
estava rasgada em algumas partes, como se tivesse sido lacerada em arame
farpado, ou espinhos, talvez. E havia o cheiro de sangue seco também. E nem
todo aquele sangue era seu. Ele podia sentir. Tinha gosto de sangue nos lábios.
Caminhou por um longo tempo, procurando claridade. Mas era
noite, e mesmo a intensa luz da lua cheia que penetrava pelas copas das árvores
era incapaz de guiá-lo. Estava perdido. Já pensava em parar para descansar,
quando avistou uma clareira, bem aos pés de um morro, e viu que a luz de uma
fogueira vinha de lá. Parecia haver risos e conversa animada. Resolveu se
aproximar.
- Não vai querer ir lá - ouviu, atrás de si. Havia uma
silhueta se insinuando por detrás de uma árvore, quase impossível de
distinguir. A voz era rouca, grave e masculina.
- Eles estão bêbados e por isso não o notaram - continuou o
homem oculto -, mas eu não. Na verdade, eu já sabia que viria.
Jerry queria fazer perguntas, pedir ajuda. Mas o homem o
interrompeu, aproximando-se e colocando a mão sobre sua boca. Foi quando o
garoto notou que o homem tinha muitos pelos no rosto e nas mãos e havia algo
espantoso saindo de sua testa: chifres, como os de um bode.
- Tudo a seu tempo. Você é só um garoto e ainda não é o
momento. Siga o conselho que vou lhe dar e saia daqui, imediatamente! Corra
como o vento, na direção exata de onde veio, até que retorne à estrada. Eu
voltarei a lhe encontrar, quando for possível.
A língua de Jerry estava dura. Não teria como falar, mesmo
se soubesse o que dizer. Então, quando aquele homem... não, aquela criatura o
largou, saiu correndo desesperadamente, como se sua própria vida dependesse
disso.
E dependia mesmo.
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