Seguidores

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Os Sonhos mais Sombrios - Capítulo Três



CAPÍTULO TRÊS - ONDE OS SONHOS SE ESCONDEM

   Jerry acordou de susto, sem saber onde estava, deitado sobre arbustos e galhos e sob a sombra de árvores que nunca havia visto. Parecia uma trilha no meio do mato. "Como havia chegado ali?", perguntou-se. Mas não havia ninguém para responder.

   Levantou devagar. Tinha dores em todo o corpo. A roupa estava rasgada em algumas partes, como se tivesse sido lacerada em arame farpado, ou espinhos, talvez. E havia o cheiro de sangue seco também. E nem todo aquele sangue era seu. Ele podia sentir. Tinha gosto de sangue nos lábios.

   Caminhou por um longo tempo, procurando claridade. Mas era noite, e mesmo a intensa luz da lua cheia que penetrava pelas copas das árvores era incapaz de guiá-lo. Estava perdido. Já pensava em parar para descansar, quando avistou uma clareira, bem aos pés de um morro, e viu que a luz de uma fogueira vinha de lá. Parecia haver risos e conversa animada. Resolveu se aproximar.

   - Não vai querer ir lá - ouviu, atrás de si. Havia uma silhueta se insinuando por detrás de uma árvore, quase impossível de distinguir. A voz era rouca, grave e masculina.

   - Eles estão bêbados e por isso não o notaram - continuou o homem oculto -, mas eu não. Na verdade, eu já sabia que viria.

   Jerry queria fazer perguntas, pedir ajuda. Mas o homem o interrompeu, aproximando-se e colocando a mão sobre sua boca. Foi quando o garoto notou que o homem tinha muitos pelos no rosto e nas mãos e havia algo espantoso saindo de sua testa: chifres, como os de um bode.

   - Tudo a seu tempo. Você é só um garoto e ainda não é o momento. Siga o conselho que vou lhe dar e saia daqui, imediatamente! Corra como o vento, na direção exata de onde veio, até que retorne à estrada. Eu voltarei a lhe encontrar, quando for possível.

   A língua de Jerry estava dura. Não teria como falar, mesmo se soubesse o que dizer. Então, quando aquele homem... não, aquela criatura o largou, saiu correndo desesperadamente, como se sua própria vida dependesse disso.

    E dependia mesmo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário