CAPÍTULO
QUATRO - O ÚLTIMO RETORNO PARA CASA
Jerry foi encontrado por um senhor obeso, barbudo e
grisalho, que dirigia sozinho uma caminhonete antiga. Primeiro, foi xingado de
todas as formas que conhecia, porque tinha aparecido de repente na frente do
carro e ficou parado como um animal selvagem, diante da luz dos faróis. Depois,
o velho compreendeu que o garoto estava ferido e perdido e decidiu levá-lo à
delegacia mais próxima.
Já havia se passado duas horas, quando, no corredor à
frente da sala do delegado, Jerry aguardava que seus pais fossem buscá-lo. Como
não havia conseguido contar nada aos policiais sobre o que havia acontecido -
na verdade, mal tinha balbuciado -, eles tiveram um trabalho enorme para
descobrir que o garoto era aquele que havia desaparecido de uma pequena cidade
vizinha dois dias antes.
Um relógio de parede tocou uma musiquinha quando alcançou
três horas. Nesse momento, sua mãe surgiu no corredor, junto de seu pai e de um
dos policiais de plantão. A mãe o abraçou, chorou, resmungou, fez um monte de
perguntas. O pai apenas afagou sua cabeça e teve um diálogo breve com o
policial, antes de entrar na sala do delegado.
- O que você estava pensando? - disse a mãe - Não precisava
ter fugido desse jeito! Oh, meu Deus, os garotos estão bem, você não precisava
se sentir tão culpado! Claro, você não precisava ter feito aquilo, mas... Nós
conversamos com os pais deles e, como você sumiu, eles te perdoaram. E aqueles
garotos nunca mais vão rir de você, pode ter certeza!
- Mãe! Para! Diz, por favor... O que foi que eu fiz?
A mãe o fitou confusa. Olhou diretamente nos seus olhos,
tentando absorver algum sentido no que Jerry dizia, mais ou menos como se
estivesse falando noutro idioma. Sorriu, nervosa, e perguntou: "Você não
lembra? Não... não lembra o que fez?"
Foram interrompidos pelo pai e o delegado que, ao saírem da
sala, comentavam algo sobre ele ter de ser examinado num hospital.
- Ora, ele parece estar bem, não é mesmo? - prosseguiu o
pai - Deve estar louco para voltar para casa. E precisa de um banho, isso sim!
Vamos, Jerry, vamos, Márcia. Já tomamos tempo demais dos policiais.
Jerry saiu da delegacia abraçado pela mãe. O pai andava na frente, parecendo se esforçar para sufocar um pouco de impaciência. Tão logo entraram no carro, o garoto sentiu sono. Por isso, voltou para casa dormindo no banco de trás, sem ouvir a conversa cheia de acusações e lamentações que seus pais tiveram até que chegassem em casa.
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