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terça-feira, 18 de julho de 2017

Os Sonhos mais Sombrios - Capítulo Nove



CAPÍTULO NOVE - O VALENTÃO DA CASA AO LADO
A mãe de Christofer pediu-lhe que levasse o lixo para fora, como fazia quase todas as noites. O garoto obedeceu, mesmo que contrariado, reclamando da tarefa, como sempre fazia. Era 7:30pm, momento em que o sol já havia se escondido atrás do horizonte, mas o negrume da noite ainda não se fazia completo. Fazia frio.
Quando abriu o tonel, à frente de sua casa, Christofer não pôde conter o berro de espanto. Havia um gato preto morto ali, numa estranha pose, como se estivesse a ameaçá-lo.
- Não é o seu gato - a voz era de Jerry, parado a alguns metros, com os punhos cerrados ao lado do corpo, o olhar impassível - Também não fui eu quem o matou. Encontrei por aí. Tinha acabado de ser atropelado por uma caminhonete, enquanto brigava com outro gato no meio da rua. Foi uma cena inspiradora. Ele continuou tentando arranhar seu inimigo, mesmo enquanto as contorções da morte lhe afetavam.
- Por que colocou ele aqui no meu lixo, seu desgraçado? Você é louco?! - esbravejou Christofer, largando a carga que tinha no tonel.
- Louco, eu não sei se sou. Na verdade, eu nem sei o que sou. Mas eu sinto algo aqui. Algo diferente. E acho que não devo culpar você por isso, Christofer, mas certamente você teve algo a ver... Que tal uma metáfora pra explicar, hein? Você sabe o que é metáfora? Então... Talvez, eu já fosse um montão de palha e lenha, secos e prontos pra queimar, mas você foi a fagulha que acendeu a fogueira. Que tal?
- Não sei do que você está falando, seu maluco! Sai daqui, ou eu vou te dar uma surra!
Jerry se aproximou, a passos decididos, lentos, amplos. Bem devagar. Sem nada falar. Sem mover os braços. Parecia um robô, ou o monstro de Frankenstein. Christofer recuou alguns passos. Aquilo o pegou de surpresa. Nunca tinha ameaçado alguém que reagisse daquela forma.
- Sai, cara! Eu vou chamar a minha mãe!
- Isso mesmo! Vamos lá! Peça pra sua mamãe lutar as suas lutas. Talvez eu possa fazer nela o que pretendo fazer com você!
- Você não vai falar assim de mim e da minha mãe! - berrou Christofer, enraivecido, partindo pra cima de Jerry. Mas o garoto estava prevenido e foi rápido o bastante para arremessar contra seu rosto um pó que, de imediato, identificou como pimenta, muito, muito ardida, que entrou em seus olhos, seu nariz, sua boca. Nem conseguiu ver o golpe que tomou na boca do estômago, com a precisão de um cirurgião. Caiu ao chão, sem conseguir falar.
Não havia testemunha alguma a passar na rua, quando uma mordaça foi colocada em sua boca e ele foi arrastado para a lateral de sua casa, onde os arbustos esculpidos do jardim esconderiam tudo o que Jerry fizesse, ao menos por um tempo.
A mãe de Christofer, assistindo televisão em alto volume, porque era surda de um dos ouvidos, não perceberia a demora do filho em retornar até o fim do segundo bloco de sua novela.


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