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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Vários - Uma reflexão sobre Deus e a religiosidade

Uma reflexão sobre Deus e a religiosidade
(Bem longo...)

Um dos meus melhores amigos e eu temos grandes diferenças no que diz respeito à religiosidade, e já percebi que muitos outros amigos e conhecidos meus preferem se dizer ateus a acreditarem no Deus bíblico:

  • que criou uma raça de que ele se arrependeu e resolveu liquidá-los com um dilúvio;
  • que aceitava sacrifícios de animais como prova de adoração de suas criações;
  • que chacinou os egípcios;e 
  • permitiu que milhares de pessoas ao longo de nossa história fossem assassinadas em seu nome, mesmo quando um de seus Mandamentos dizia "Não usará em vão o meu nome".

Ora, eu realmente não condeno nenhuma pessoa por pensar assim. É mais fácil temer do que amar um Deus descrito assim. E temer não é exatamente uma forma de ser sábio e, não sendo sábios, acho que não podemos ter uma perspectiva real de vida plena após a morte, num pressuposto paraíso. Ponto pros céticos!

Também há muitas contradições no que diz respeito aos quesitos científicos da Bíblia.

Charles Darwin nos provou a existência da evolução entre espécies; aliás, mesmo a nossa geração está evoluindo, enquanto mutações sutis ocorrem nos genes de cada novo bebê que nasce, e a seleção natural permanece uma inimiga das deficiências físicas e doenças degenerativas, mas o homem usa da medicina e da novíssima cibernética para lutar contra isso, porque faz parte de seu instinto em querer evoluir - evoluir além das barreiras da biologia. Ainda assim, muitas pessoas não admitem que o homem possa ter um ancestral comum com os demais primatas (como os macacos), porque a Bíblia menciona que fomos criados EXATAMENTE do que jeito que somos, a partir do barro. E renegam os cálculos científicos da idade da espécie humana e do planeta Terra de modo geral. E nem param pra pensar que os dentes do ciso estão paulatinamente desaparecendo de nossa espécie, por não ter mais utilidade no processo mastigatório, só pra citar algum exemplo fácil.

A Bíblia também nos fala num dilúvio, assim como MUITAS outras culturas, mitologias e crenças diferentes da 'judaico-cristã' falaram em momentos distintos da história da humanidade, e em diferentes regiões do planeta. Mas NENHUM arqueólogo conseguiu até hoje provar que um dilúvio poderia ter ocorrido, exatamente como descrito no livro sagrado, exatamente naquela suposta época. E também nenhum historiador pesquisador consegue provar que Jesus tenha existido: há um único livro conhecido em todo mundo que menciona a existência de Cristo, a própria Bíblia. Jamais foi possível encontrar qualquer documento ou registro do período romano que comprovasse que Jesus Cristo foi preso por causar tumulto na Galileia, julgando-se rei acima de César. E burocracia romana é um exemplo histórico, meus leitores! Outra vez, ponto pros céticos!

É fácil entender, portanto, o ponto de vista dos ceticistas questionadores, os autointitulados ateus. Eles preferem crer no que a ciência comprova, não no que a Bíblia apenas afirma. Eles gostam de apontar veementemente os "defeitos presentes na personalidade da divindade", espalhados por diversos trechos da Bíblia, a tentarem estudar e compreender Deus sob outras perspectivas filosóficas. E naturalmente, como outros seres humanos, muitos deles (o que não significa todos, obviamente) se enchem de razão e usam essa razão para atacar, ofender, chacotar e tratar com desdém e preconceito aqueles que são diferentes deles; não haveria porque esperar algo contrário, já que os católicos medievais matavam pagãos, e católicos contra protestantes já tiveram dezenas de conflitos no Reino Unido, entre outros exemplos de atrocidades religiosas por aí. Por sorte, ainda não ouvi falar de uma "guerra santa" ateísta, e espero mesmo que isso não aconteça nunca, porque seria apenas uma prova de que eles não são diferentes de ninguém, e portanto, seria sem propósito.

Agora, deixe-me deixar bem claro. Eu creio em Deus. Eu adoro ler os evangelhos (de fato, já me emocionei algumas vezes com a leitura). Eu não gosto de pensar que a nossa existência é desprovida de significado, despropositada, e não aceito que não haja nada maior do que nós, reles seres humanos, em outra parte da existência, algum lugar que meus sentidos não alcançam. E, ainda assim, passei quase metade da minha vida questionando AS MESMAS COISAS que os ateus questionam. E ainda mais durante e após fazer a faculdade, porque ali eu tive ciência de coisas que eu não sabia antes sobre a biologia humana, e pude conhecer gente que estuda história, física, filosofia, etc., abraçando conhecimentos diversos (mesmo as "culturas inúteis") como um viciado se apega às drogas.

Então, vamos parar pra pensar um pouco: o que me torna diferente dos ateus, se eu também sou questionador?
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Eu decidi usar a minha capacidade mental pra tentar olhar as coisas de outro modo. E tive humildade para observar as experiências de vida como pistas sutis de que algo maior existia. Logo, eu não pude negar quando meus instintos disseram-me: Deus existe. Ele está lá. Eu só precisava pensar em um modo de entender as coisas difíceis sem me tornar um ignorante qualquer, que tapa o sol com peneira. Não, eu não quero simplesmente aceitar que as coisas são como são, e que tudo o que está na Bíblia é verdade, nem que a só a ciência é verdade.

Daí eu cheguei aos seguintes raciocínios: a ciência, como o homem que a pratica, evolui a cada dia. Ela não é completa, nem perfeita, portanto não é capaz de solucionar todos os problemas, nem de obter todas as respostas. Na melhor das hipóteses, ela sabe muito bem fazer perguntas, mas cada pergunta nova depende de perguntas feitas antes, e respostas que já tenham sido dadas.

Vejo a cada cinco anos a descoberta de uma nova partícula, menor que o átomo, que o elétron, que o fóton, que o quark, e sei lá eu quantas mais partículas existam (admito, não entendo de física). E cada vez, os cientistas afirmam: chegamos ao limite da divisão da matéria. Conversa! Certamente, haverá quem contraponha essa afirmativa no futuro, e mesmo quando isso for feito, ainda não poderemos entender totalmente a matéria.

Portanto, não há razão para crer que não exista alma, e mesmo Deus, só porque não podemos prová-los ou percebê-los. Não temos os meios sensíveis à possível escala particular que devemos alcançar para encontrá-los, ou talvez existam fatores ainda não considerados no estudo da "matéria invisível", que nos faz descartar, por exemplo, a existência de uma outra dimensão, onde Deus exista.

Mas, se Deus existe, ele nos criou? O mundo foi feito em sete dias? A espécie humana tem só alguns milênios de existência, como diz a Bílbia, ou milhares e mais milhares, como nos falam os cientistas?

Pra responder essa questão, é preciso ser cético, também. E daí já prevejo que vou ofender alguns crentes... A Bíblia é sagrada pelo que ela representa, não pelo que está escrito nela. ELA FOI ESCRITA POR SERES HUMANOS, como eu, como você. Logo, ela pode ter muitas falsidades, muitas mensagens ocultas, muitos trechos corrompidos, e mais do que tudo, muita alegoria, metáforas, trechos que não dizem exatamente o que está escrito, mas algo aproximado por analogia.

Consequentemente, se entendida dessa forma, a Bíblia pode conter as verdades de que precisamos pra entender Deus, mas é preciso ler com vontade de entender, e não apenas aceitar ao pé da letra. E lendo assim, eu concluí que Deus criou o Universo, e por consequência disso a humanidade, mas isso não foi feito em sete dias; foram "sete fases" de criação, que sabe-se lá quanto tempo duraram. E talvez ele nem tenha feito uma a uma: tenha feito apenas as regras universais que fariam com que uma coisa sucedesse a outra, em perfeita harmonia. Daí é possível admitir que o homem "veio do macaco", mesmo tendo vindo do barro, porque do barro vieram os coacervatos (primeiras "proteínas vivas" de que se tem noção, cientificamente) e dos coacervatos vieram todas as espécies, incluindo os macacos. E é possível também entender que a Bíblia deve ser usada apenas como demonstrativo de preceitos morais necessários ao comportamento humano, para que a espécie alcance seu ápice evolutivo em harmonia, em vez de ser usada como fonte de conhecimentos históricos. Em resumo: eu acredito que Deus me criou, mas não ao pé da letra.

Existindo Deus, seria Ele perfeito, ou ele é realmente inconstante e temperamental, capaz de matar suas próprias criações, capaz de aceitar que nos matemos e vivamos em tanta discórdia, como vivemos nesse mundo? É ele um ser bom, mau ou nenhum dos dois? Devemos adorá-lo, somos obrigados a isso?

Acho que é melhor deixar claro que não sou nenhum gênio. E não tenho estudo suficiente de filosofia, história, comportamento humano e religião de forma geral, pra argumentar contra a questão final, ou todas as demais, a propósito. Mas isso é exatamente a resposta de que preciso! NENHUM SER HUMANO tem conhecimento, entendimento, estudo suficiente para alcançar o grau de abstração da divindade necessário pra compreender sua personalidade, seus propósitos, suas razões. Mas seria completamente irracional pensarmos em algo capaz de ser Deus, e não entendermos que ele faz tudo por algum motivo. E se ele tem um motivo pra tudo, ele também pode ser perfeito, embora definir "perfeito" esteja além do escopo das minhas capacidades intelectuais.

Por outro lado, Deus não faz tudo. Ele já fez. Não aceito a hipótese de ele interferir em cada momento de nossas existências; posso entender interferências ocasionais, mas não onipresentes, mesmo que ele próprio possa sê-lo. Ele não teria porque nos controlar, tratar-nos como marionetes. Daí eu acredito que a principal ação de Deus foi criar as leis da natureza, o modo como o Universo deve funcionar, mesmo as leis que não conhecemos ainda.

No fundo, pra crer em Deus, é preciso um elemento de personalidade mais forte que o questionamento: a fé. E algumas pessoas, eu acho, não são capazes ainda de ter fé, porque a fé depende de circunstâncias. Você é aquilo que você vive, aquilo que suas experiências de vida o fizeram ser e aquilo que pensa para si mesmo. Se não há razões na sua vida para a fé, NENHUM wall text do mundo vai lhe enfiar fé na cabeça, e é por isso que eu não estou aqui pra tentar convencer ninguém, muito menos converter. Aliás, isso seria ridículo. eu sou espírita, mas tenho muitos amigos e parentes seguidores das igrejas evangélicas quadrangular, batista, assembleia de Deus, além de católicos, umbandistas, agnósticos e ateus. Eu acho que cada um tem direito a crer no que achar que deve, mas DEVE respeitar as crenças dos demais. Viver em sociedade exige isso, porque é mais lógico do que a discórdia.

Esse texto eu fiz porque ontem eu vi uma entrevista de um religioso que me revoltou. Porque ele se demonstrou intolerante, irascível, preconceituoso e crente de que "O mesmo Deus que te ensina o amor, é quem te joga no Inferno". Caramba, e esse cara é pastor evangélico e deputado federal! Então, em suma, eu comecei a escrever este texto pra me questionar mais uma vez. E a resposta a que cheguei é a mesma que eu tinha antes de começar.

Continuarei a amar Deus sobre todas as coisas. E continuarei a tentar seguir o exemplo de Cristo (tenha sido ele figura mitológica ou personagem real da história), de buscar amar à minha espécie como a mim mesmo, porque isso pode me garantir felicidade e grandeza. E, diferente dos céticos, eu me sinto seguro em questionar, porque tenho fé de que, um dia, eu terei minhas respostas.

Obrigado a todos os que leram, e um muitíssimo obrigado aos que demonstrarem respeito pelo que eu penso: vocês merecem a minha consideração. Aos que quiserem me ofender ou chacotar de mim, por favor, façam fila.