CAPÍTULO DOIS - NUM DIA DE FESTA
Na data de seu aniversário, Jerry estava pronto para ter
mais uma tarde de solidão, lendo seus gibis, jogando videogame, assistindo TV e
morrendo de tédio. Só que sua mãe estava organizando uma festa, para sua total
surpresa. E praticamente todas as pessoas da rua viriam, de crianças a idosos.
Jerry não insistiu em perguntar o porquê daquilo tudo. Sabia que a resposta de
sua mãe não valeria a pena e imaginava que seu pai acabaria lhe xingando por
"desapontar sua mãe".
Quando a festa aconteceu, não demorou a perceber que as
pessoas não haviam vindo para lhe parabenizar - seu único propósito era comer
as delícias que sua mãe havia feito. Ela era confeiteira, e das boas, de modo
que trazer um abraço fingido e um presente aleatório para o garoto nada mais
era do que uma desculpa para encher a barriga de doces, salgados e
cachorros-quentes. Os homens bebiam cerveja, as mulheres trocavam fofocas e as
crianças riam, conversando ou jogando, mas Jerry preferiu ficar sozinho à volta
da mesa da comida. Foi quando percebeu que estava com fome. Muita fome.
Os garotos vieram do pátio chamar por Jerry, dizendo que
haviam preparado uma brincadeira, que ele iria gostar. Uma surpresa. Mas Jerry
estava comendo e não queria ser perturbado. Além disso, algo parecia lhe dizer
que aquilo não seria nada bom. Por isso, continuou sentado, como se não tivesse
ouvido. Mas os garotos insistiram, então teve que se levantar, mesmo que
contrariado.
Quando chegou ao pátio, vendaram seus olhos e lhe deram
alguma coisa nas mãos. "Um taco de madeira", pensou, "e há um
prego num dos lados". E disseram "você tem que estourar o
balão!" Ora, era uma brincadeira interessante, no final das contas! Devia
ser um daqueles balões que escondem doces dentro. Então, se conseguisse
estourar o balão, todos teriam balas e ele poderia voltar lá para dentro
satisfeito.
Aquilo era exatamente como sua mãe havia planejado. Mas ela
não havia percebido que os garotos do bairro haviam trocado o balão de doces
por outro, contendo algo muito menos proveitoso: uma pequena amostra de urina e
fezes. Assim, quando Jerry finalmente conseguiu encontrar e estourar o balão,
derramou sobre sua própria cabeça a diarreia de um de seus vizinhos.
Tirou dos olhos a venda e não conseguiu se decidir se chorava ou explodia de raiva. Todos o observavam. As mulheres estavam horrorizadas, os homens enojados, as meninas tinham ânsia de vomitar. Mas os meninos... os meninos riam. Só então Jerry teve certeza: era ira o que estava sentindo. A ira mais profunda de todas.
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