CAPÍTULO CINCO
- PESADELOS
Jerry teve sonhos perturbadores. Não havia imagens - não,
ao menos, alguma que fizesse sentido. Tinha sensações, sentimentos, nada que
pudesse decifrar facilmente. Ódio, dor, medo, vergonha... fome.
Acordou no seu quarto. Estava suado e tinha jogado,
inconscientemente, todas as cobertas sobre o chão. A janela estava entreaberta
e o sol brilhava direto sobre seu rosto. Olhou para o lado, à procura do
relógio despertador. Dez e meia. Por que sua mãe não viera apressá-lo para ir à
aula, ele não sabia.
Desceu contando os passos. A escadaria parecia mais alta do
que estava acostumado. Encontrou a mãe na cozinha, fazendo limpeza. Ela o
recebeu com um sorriso e falou alguma coisa sobre café, pão e ovo. Ele não
prestou atenção. Ainda tinha sono, mas também tinha fome. Muita fome.
Comeu quatro sanduíches com ovo, salame e requeijão,
acompanhados de duas servidas de leite achocolatado. Depois, duas bananas e uma
fatia de mamão. A mãe andava de um lado para outro, mas parou, depois de um
tempo, para conversar:
- Como se sente, filho? - ela questionou, admirada pela
fome exagerada do garoto.
- Bem, eu acho... Mãe, o que foi que aconteceu? Por que eu
não lembro de nada?
A mãe se levantou. Recolhendo as coisas da mesa e ajeitando
panos de prato, respondeu:
- Seu pai não me dá ouvidos. Eu disse a ele que precisaria
visitar um médico. Mas ele está tão preocupado com os problemas da firma, que
não quer saber de nada...
- O que foi que aconteceu, afinal, mãe?! Não enrola!
A mãe parou e o fitou, secamente dizendo:
- Você ficou bravo com os rapazes, pela brincadeira de mal
gosto que fizeram. Brigaram e... foi isso. Você saiu correndo depois, não houve
como alcançá-lo. E aí sumiu por dois dias.
Enquanto pensava sobre aquilo, tendo certeza plena de que a
mãe havia escondido detalhes importantes, Jerry deu-se conta de que algo estava
diferente.
- Mãe... onde está o Cabum?
- Eu não sei. Não o vi essa manhã. Mas ouvi seus latidos a
certa hora da madrugada. Deve ter escapado lá para fora. Não se preocupe, ele
conhece todo esse bairro e sabe o caminho de casa.Jerry saiu correndo para o pátio. A resposta estava logo adiante. Cabum estava amarrado à cerca, enforcado, com o crânio rachado e marcas de espancamento em várias partes do corpo. O garoto se aproximou em desespero. Não tinha força nem habilidade para desfazer os nós da corda que prendia o corpo de seu cachorro. Só conseguia chorar e gritar. Quando a mãe surgiu atrás dele, completamente horrorizada com o que via, Jerry enfim percebeu um papel grudado ao pelo do animal, onde estava escrito: "Isso foi pela minha orelha".
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