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quarta-feira, 12 de julho de 2017

Os Sonhos mais Sombrios - Capítulo Sete



CAPÍTULO SETE - DIAS QUE SE PASSAM



O senhor Sydnei e a senhora Márcia, pais de Jerry, reagiram com óbvia estranheza ao comportamento do filho nos dias seguintes. Mas o senhor Sydnei era um homem ocupado demais com a papelada do departamento de empreendimentos de uma grande empresa de propaganda e consultoria, enquanto sua esposa ocupava suas manhãs com tarefas domésticas e suas tardes com a confeitaria, onde era sócia e confeiteira-chefe. Restavam poucas horas do dia para notar que o filho estava diferente e investigar os detalhes dessa mudança.



Jerry, por sua vez, percebeu que os pais não o viam como ele via a si mesmo. Se o fizessem, teriam comentado, ou demonstrariam algum espanto - isso era óbvio. Aquilo era, no mínimo, bizarro, mas nada que precisasse de uma maior atenção. Então, pôde ocupar-se de seus planos, sem se preocupar em ser notado.



Voltou a frequentar a escola e fingia que nada de especial tinha acontecido. Como sempre fora um garoto isolado e desprovido de amigos, não estranhou o tratamento com que foi recebido. Em vez disso, passou a apreciar aquela solidão, principalmente porque, agora, os garotos não se aproximavam nem mesmo para incomodá-lo com apelidos e piadinhas, ou empurrões e objetos jogados sobre a cabeça.



Os colegas que não eram moradores de seu bairro nada ou pouco sabiam sobre os dias assombrosos que tivera, até que os vizinhos começaram a cochichar nos corredores. E o que começou com rumores assustados, mas ingênuos, tornou-se uma lenda urbana de violência, insanidade e decadência. Suspeitaram que usava drogas, fofocavam sobre esquizofrenia (mesmo que poucos jamais tivessem ouvido falar daquilo), sussurravam sobre seu olhar distante e seu sorriso petulante. Até mesmo acusaram-no de ter sido o matador do próprio cachorro. Ninguém parecia se importar com a verdade, ou com como ele se sentia, de fato.



Na ida à escola e na vinda para casa, Jerry se deixava levar pelos pensamentos. Tinha algo em si que o impulsionava a pensar sobre como devolveria a terrível ofensa ao vizinho maldoso, como o faria pagar pela crueldade com que tirara a vida de seu único amigo. Assim, observava lugares e pessoas com interesse, como se buscasse em cada coisa, cada ponto da cidade e cada indivíduo algo que pudesse ser usado, ou uma ideia definitiva sobre o que fazer.



Às tardes, ele caminhava sem rumo, como sempre fizera. Não tinha mais o cão ao lado, mas imaginava tê-lo. Sentia uma dor muito forte, uma saudade imensa, e aquilo o fazia sentir uma raiva ainda mais profunda. Por isso, era nessas horas que sua busca pelos meios de vingança perfeitos se redobrava. Mas sua cabeça estava confusa demais para que algo pudesse ter um mínimo de sentido, então ele não conseguia formular um plano melhor do que ir até a casa do vizinho e esmurrá-lo até matar.



No quinto dia, sentiu-se fraco e desmotivado. Os dias estavam passando e a grande retribuição não lhe ocorria. Sem compreensão de todas as coisas que estavam acontecendo consigo mesmo, sentia que não seria capaz de seguir adiante. Ele entendia que era um monstro, até gostava da sensação de sê-lo, mas não sabia o que significava e, por isso, sentiu-se perturbado. "QUEM É VOCÊ?" - gritou para o espelho, jogando-o, depois, contra a parede do quarto. Agarrou-se às pernas sobre o colchão, tapou os olhos e chorou.



Então, ouviu um ruído, vindo debaixo de sua cama. Parecia um rosnado de um cão feroz, mas também parecia uma gargalhada macabra.

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